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Anona foi investigada como potencial fonte de medicamentos contra o cancro, no entanto a afirmação de que "só destrói as células malignas" já não é assim tão verdadeira!
[ 2012-04-17 ]
Os medicamentos antitumorais, são na sua maioria de origem natural, devido exatamente, à sua grande toxicidade, e é por isso que, ainda que as pessoas tenham uma vontade desesperada de ir buscar à natureza novas “opções terapêuticas”, têm que ter muito cuidado pois os danos que resultam do uso e abuso no seu consumo são muito graves.
Na Ilha de Guadalupe tem-se registado uma série de casos atípicos de Parkinson que têm sido relacionados ao consumo de frutos e derivados de Annona muricata L. (Anona), hipótese apoiada por um estudo “caso-controlo” o qual demonstrou que o número de doentes com Parkinsonismo atípico era maior no grupo que consumia frutas, infusões e decocções de folhas desta planta do que no grupo de doentes com Parkinsonismo Idiopático ou no grupo controlo.
A planta de Annona muricata L. contém duas neurotoxinas: os “Alcalóides Isoquinolínicos” e as “Acetogeninas”, e destas últimas faz parte a “Anonacina”, extremamente tóxica para os neurónios.
Um fruto de tamanho médio contém mais ou menos 15 mg de Anonacina, uma lata comercial contém 36 mg e uma chávena de infusão ou decocção 140 µg. Como indicador da sua potencial toxicidade, um adulto que consuma uma fruta ou uma lata por dia durante mais de um ano, calcula-se que consuma a quantidade de Anonacina que provocou lesões cerebrais a ratos que receberam esta substância pura através de via intravenosa.
Estes dados reforçam a hipótese, com base em dados epidemiológicos, de que o consumo por longo período de tempo de produtos derivados de Annona muricata L. pode contribuir para a degenerescência neuronal que é responsável pelo Parkinsonismo Atípico em Guadalupe.
O fruto de A. Muricata L. e os seus derivados (néctares, gelados) são consumidos em abundância em todas as áreas tropicais e os seus chás medicinais e as folhas moídas, são comercializados como um suplemento dietético. A ligação entre o consumo de anona e o Parkinsonismo Atípico também se tem verificado em populações Afro-Caribenhas e Indianas em Inglaterra e em Nova Caledónia.
Ainda que a evidência permaneça circunstancial, a toxicidade crónica como resultado do consumo abusivo de Anonacina, pode constituir um grave problema de saúde pública a nível mundial. Os Médicos Neurologistas e de Medicina Geral que consultam estas populações potencialmente vulneráveis, estão cada vez mais alerta perante os sintomas desta doença, a qual precisa urgentemente de mais investigação.
Bibliografia:
Champy P, Melot A, Guérineau Eng V, Gleye C, Fall D, Höglinger GU, et al. Quantification of acetogenins in Annona muricata linked to atypical parkinsonism in guadeloupe. Mov Disord. 2005;20(12):1629-33.
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