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“Aprender Saúde entre as Plantas e os Medicamentos”
[ 2013-06-10 ]
O Observatório de Interações Planta – Medicamento (OIPM/FFUC) tem um grupo de investigação associado ao Projeto “IciPlant – Interações entre Citostáticos e Plantas” desde 2009 e decorre entre a Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra e o Instituto Português de Oncologia de Coimbra“IPOCFG, E.P.E.”.
Com o título inicial “Pesquisa de interações entre os citostáticos e moléculas bioativas de origem natural (extratos à base de plantas) com afinidade para os mesmos isoenzimas do CYP450”, este projeto desenvolve-se em parceria com os médicos da oncologia e tem ajudado vários casos de interações com desfecho de toxicidade grave que foram sinalizados.
O OIPM/FFUC apoia não só esta Unidade Hospitalar mas também, todas as que precisarem do seu suporte nesta área científica. Pelo país inteiro, vários doentes tiveram acompanhamento da equipa, que para além de contribuir na análise das interações planta-medicamento também analisa produtos trazidos pelos doentes.
Os doentes também contactam diretamente o OIPM para melhor perceberem estas questões e para poderem decidir conscientes da informação, ou falta dela, que existe sobre os produtos naturais que estão a tomar ou que lhes são recomendados para tratar o cancro, estimular o sistema imunitário e/ou para desintoxicar.
O OIPM, no âmbito do Projecto “Aprender Saúde entre as Plantas e os Medicamentos” / Compete Ciência Viva/QREN, traz esta semana aos cidadãos o alerta em exclusivo sobre os produtos que os doentes misturam com os tratamentos oncológicos e que têm causado graves problemas de saúde em Portugal e em outros países.
O OIPM informa que as interações entre estes dois grupos, medicamentos e produtos naturais, são do mesmo tipo das que ocorrem entre medicamentos (interacção medicamento-medicamento) ou entre plantas (interacção planta-planta) e classificam-se em Farmacocinéticas e/ou Farmacodinâmicas. Resumidamente as Interações Farmacocinéticas vão desde a absorção à excreção, passando pela distribuição e metabolização (envolvendo vários tipos de enzimas que ajudam a desintoxicar o organismo). As Interações Farmacodinâmicas traduzem-se num efeito aditivo, sinergético ou antagónico.
Na prática o que acontece é que se pode reduzir o efeito do medicamento se for diminuída a absorção ou a distribuição. Há redução na absorção sempre que conjuntamente com o medicamento se consomem, sementes (exemplo, linho, psílio, chia) algas ou fibras. Além disso, alguns medicamentos precisam de proteínas que os transportam e se estas estiverem inibidas, como é o caso da P-glicoproteína quando se toma hipericão, o medicamento pode não chegar ao sangue na quantidade suficiente para ser eficiente na dose que se recomenda.
Também se reduz a permanência de um medicamento no nosso organismo quando se estimula a excreção renal, como acontece com o uso de plantas com atividade diurética (por exemplo, alfavaca-de-cobra, alcachofra, aipo, dente-de-leão, cavalinha).
Por outro lado, plantas como a erva de São João também conhecida por hipericão, ginseng americano (especialmente os seus metabolitos libertados no intestino), alcachofra, cardo mariano, salvia miltiorrhizae (danshen), entre muitas outras, aumentam a metabolização enzimática de alguns medicamentos, diminuindo a quantidade destes medicamento disponível para exercer a sua atividade terapêutica. Isto sucede porque estas plantas podem induzir as enzimas 2B6, 2C9, 2D6 e 3A4 do citocromo 450 (CYP450), as mais envolvidas na metabolização de medicamentos e de muitas substâncias químicas que existem nas plantas. A redução da dose disponível do medicamento pode conduzir a uma ineficácia do tratamento o que poderá levar à continuação da proliferação do processo tumoral.
Existem contudo medicamentos que chamamos de pró-fármacos e só após esta primeira fase de metabolização é que se transformam no medicamento propriamente dito (como é o exemplo do irinotecano). Se a metabolização da enzima em causa for inibida o medicamento nunca se transformará na versão activa, e portanto nunca se gerará o efeito terapêutico.
Situações de potenciação da toxicidade de alguns medicamentos, dão-se por mecanismo inverso, ou seja, se for aumentada a absorção ou se as enzimas forem inibidas deixando de exercer a sua atividade total na metabolização do medicamento, tal como previsto no tratamento. São exemplos, desta atividade plantas como o alcaçuz, alho fresco, aloé, bagas de Goji, cardo mariano, castanheiro-da-índia, angelica (dong quai), gingko, ginseng asiático (os seus metabolitos), hidraste, kava-kava, mangostão, propólis, extrato de sementes de uvas, sumo de toranja, valeriana e vinca.
A Organização Mundial de Saúde (OMS), tem diretivas que obrigam a que todo e qualquer produto de Medicina Tradicional, à base de plantas, destinado ao tratamento seja de que doença for, deve apresentar provas de eficácia e de segurança e ser preparado à luz das normais de Boas Práticas de Produção e de Controlo de Qualidade, o que nem sempre acontece. Alerta ainda para a contrafacção e pobre qualidade de vários desses produtos, para segurança dos doentes que os consomem. A OMS tem recebido várias notificações de efeitos adversos com produtos de origem naturais e a Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos também.
Em Portugal será o OIPM/FFUC a receber essas notificações que depois serão reencaminhadas para os outros organismos competentes nestas áreas consoante se trate de um suplemento, alimento ou medicamento
“Infelizmente têm aparecido no mercado internacional e também no português uma série de produtos incluindo “Plantas Milagreiras” e igualmente PERIGOSAS, na prevenção e no tratamento e que vão, de A a Z., para além das causadoras de interação já citadas existem depois outras que para além de também alterarem a biodisponibilidade dos medicamentos, como por exemplo, curcuma (açafrão-das-índias, equinacea, morinda (pau-azeite), noni, pau-de-arco, soja, visco-branco e Ziziphus jujuba Mill (jujuba-da-china), entre as quais se encontram algumas bastante tóxicas.
Nos últimos 30 anos entraram no mercado cerca de 124 medicamentos para o cancro sendo que apenas 20 são de síntese química total. Todos os outros, mais de 100, são de origem em produtos naturais. Estas substâncias químicas retiradas da natureza, são suficientemente ativas para poderem contribuir para matar células tumorais, mas devidamente controladas e usadas em doses que permitam o benefício seja superior ao risco e que essa é uma das principais razões pelas quais não se devem usar as plantas diretamente pois poderia matar-se o doente em vez de o salvar. O uso de extratos de plantas só é seguro se forem preparados com rigoroso controlo de qualidade e em que as doses dos constituintes estejam devidamente determinadas. E estes produtos devem estar devidamente registados nas entidades respetivas consoante a categoria a que pertencem.
Os acidentes em cirurgia são dos mais graves e podem ser fatais, quando se consumiu antecipadamente alguns tipos de produtos naturais, tanto porque alguns destes produtos aumentam a metabolização, como podem bloquear proteínas transportadoras, por exemplo, de anestésicos ao cérebro, ou pelo contrário aumentar o tempo de anestesia, acaso não haja quantidade de transportadores suficientes (porque foram inibidos pelo consumo continuado de algumas plantas) e por isso a eliminação da anestesia torna-se mais prolongada com riscos para o doente. O aumento do tempo de hemorragia, dificuldades de coagulação, alterações na sedação, de pressão arterial, são alguns exemplos. A rejeição de órgãos por toma nas semanas anteriores de plantas que sejam por exemplo indutoras das enzimas necessárias para a metabolização de medicamentos, como a ciclosporina. Luísa Costa investigadora do OIPM/FFUC, Anabela Marques do Departamento de Anestesia dos CHUC e as docentes e investigadoras da FFUC Margarida Castelo-Branco, e Maria da Graça Campos prepararam no último ano tabelas de interações Planta – Medicamento em peri-operatório, que estão em fase de validação pela comunidade científica internacional, para depois serem divulgadas em Portugal e deste modo poderem ajudar na avaliação destas situações antes que possam ocorrer em meio cirúrgico, contribuindo assim para prevenir o risco e melhorar a Saúde no nosso país.
http://youtu.be/iKMqGc_mjG8
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